terça-feira, 24 de novembro de 2015

África e Bahia - João Crispim Victorio Cebi Campo Grande - RIO (RJ)

África e Bahia

África, terra de tantos encantos
Canto para te saudar
Terra do povo negro
Salve os teus orixás...

Bahia, braço de continuidade
Que vontade de ficar
Terra de todos os santos
Canto para teus orixás...

Oxalá, que na força deste povo
Um grito novo possa ecoar
Laços de amizade e magia
África, Bahia e seus orixás...

África, terra de tantos encantos...

Bahia, terra de todos os santos...

Oxalá, canta o povo de todas as etnias...

África e Bahia
Cantam para seus orixás...


Poema de João Crispim Victorio
Extraído do livro: Poetas de Manguinhos (1997).

22 de novembro de 2015.

sábado, 7 de novembro de 2015

Ciência e Tecnologia, a serviço de quem? João Crispim Victorio - CEBI Campo Grande - Rio (RJ)

Ciência e Tecnologia, a serviço de quem?

João Crispim Victorio[i]

            Antes de qualquer coisa é preciso compreender o conceito e a evolução da Ciência e da Tecnologia dentro de um contexto histórico, social e ideológico, próprio da evolução humana. Dessa maneira iremos perceber que Ciência e Tecnologia caminham juntas, mas nem sempre dependente uma da outra; que quanto mais avançado em Ciência e Tecnologia for um determinado país, mais poder exercerá sobre os outros e, por fim, para a Ciência e a Tecnologia acontecerem são necessários investimentos, por um lado, intelectual, capacidade de criação do ser humano e, por outro, financeiro, pois no modelo político-ideológico que vivemos, sem o dinheiro, não há crescimento científico e tecnológico.
A palavra ciência deriva do latim "scientia" que significa conhecimento ou saber. Atualmente se designa por ciência todo o conhecimento que abarca teorias e leis gerais obtidas e testadas por meio do método científico. A Ciência, na verdade, comporta um conjunto de saberes com teorias elaboradas nas suas próprias metodologias. Dentre esse conjunto de saberes temos as Ciências da Natureza que descrevem, ordenam e comparam os fenômenos naturais determinando as relações existentes entre eles, formulando leis e regras. Podemos distingui-las como Ciências Exatas: física e química e Ciências Descritivas: biologia, geologia, medicina, entre outras.
Já a palavra tecnologia tem sua origem no grego “τεχνη” e “λογια” que significam ofício e estudo respectivamente, ou seja, o termo envolve conhecimento técnico e científico. Então, tecnologias são métodos elaborados para melhorar o funcionamento dos mecanismos de produção visando tornar mais rentáveis os investimentos e isso compreende desde as ferramentas mais simples até as mais complexas. Sendo assim, podemos definir tecnologia como sendo a aplicação do conhecimento científico por meio do estudo sistemático das técnicas para fabricar e fazer coisas conseguindo um melhor resultado prático. Portanto, isso demonstra que a Tecnologia está intimamente ligada a Ciência e ambas se completam para dinamizar a vida no mundo[1].
A religião, refiro-me aqui ao cristianismo, durante todo o processo de evolução humana, além das Ciências e das Tecnologias, torna-se um fator que merece destaque devido sua influência e interferência na vida e na história humana. A Bíblia, por exemplo, não é um livro científico, mas fala de ciência e está de acordo com fatos científicos bem diferentes das crenças de alguns povos que viviam na época em que algumas de suas histórias saíram da oralidade e ganharam a forma da escrita. Comparando com a periodização clássica da historiografia as histórias biblicas acontecem dentro do período que chamamos de História Antiga, em dois momentos. O primeiro, Antigo Testamento, de 1900 a.C. até o ano 1 da era cristã e o segundo, Novo Testamento, tem seu início a partir do nascimento, da trajetória, da morte de Jesus Cristo e seus discípulos, ou seja, até os anos 70 d.C.
Vejamos alguns exemplo dos relatos bíblicos[2] que demonstram, de forma interessante, essa ligação entre Ciência e Religião. Vamos iniciar esta tarefa com a questão do Universo:  segundo o livro de Gênesis o Universo tem uma criação (Gn1, 1). No entanto, para alguns povos antigos o Universo não foi criado e sim nascido de deuses e os seres humanos eram vítimas das ações imprevisíveis desses deuses,  sabemos, pois, que  o Universo é governado por leis naturais e não por caprichos dos deuses, conforme relatos no livro de Jó (Jó 38, 33) e de  Jeremias (Jr 33, 25); A Terra é suspensa no espaço vazio, conforme, Jó (Jó 26, 7). Porém, alguns povos antigos acreditavam que a Terra era achatada e se apoiava em um búfalo ou em uma tartaruga; ainda de acordo com Jó (Jó 36, 27-28) e, também, Eclesiastes (Ecl 1, 7) , entre alguns outros livros biblicos, a água evapora e cai em forma de chuva, alimentando os rios e os mares. Os povos antigos acreditavam e até o século 18, ainda se acreditava que eram as águas dos oceanos subterrâneos que alimentavam os rios; algumas práticas de higiene são relatadas em Levítico (Lev 11, 28 e 13, 1-5) e Deuteronômio (Deu 23, 13), regulamentando ao povo de Israel procedimentos corretos depois de tocar num cadáver, isolar pessoas com doenças infecciosas e eliminar fezes humanas de forma segura. Nessa  época os egípcios tratavam as feridas com excremento humano.
Com esses poucos exemplos citados já é possível verificar que a evolução da humanidade sempre esteve diretamente ligada ao tripé: Religião , Ciência e Tecnologia. Hoje sabemos que ao longo dessa evolução muitos cientistas, alguns deles divididos entre Ciência e Religião, tiveram importante participação, mesmo durante a tenebrosa inquisição. Pois, suas descobertas possibilitaram o progresso da vida humana em sociedade e muitas das transformações sociais se deram devido ao avanço científico que desde os primórdios da nossa história, principalmente, a partir da descoberta, do uso e da reprodução do fogo, assim como o uso de um simples galho de árvore para ampliar o braço humano e derrubar uma fruta, vem ocorrendo. Ou seja, podemos dizer que nos distintos períodos da história que antecederam a Revolução Científica[3], na Europa do início no século 17, vimos uma ciência voltada para os conhecimentos que poderiam explicar o Universo e seus fenômenos naturais e já nos períodos pós Revolução Científica veremos a consolidação do que se convencionou chamar Ciência Moderna. O embrião da Revolução foi a Renascença italiana, que apesar da posição contrária da Igreja Católica foi em frente e no início do século 18, toma forma o método científico, que passaria ser aplicado na busca de explicação dos fenômenos da natureza. Aqui dois personagens se destacaram Francis Bacon e René Descartes.
Nesse sentido, podemos concluir que a evolução da Ciência e da Tecnologia, ao longo da história da humanidade, transita por três fases distintas, até tornarem-se indissociáveis e, por que não dizer, centro da incansável busca pelo progresso humano. Tomaremos por base, para essas divisões em fases, a Revolução Industrial ou, segundo alguns historiadores, Revolução Tecnológica, que teve início na Inglaterra de 1740, século 18. Revolução esta que acontece devido aos avanços científicos e tecnológicos da época, pois, possibilitaram a introdução das máquinas no processo produtivo. A introdução da mecanização na produção, até então artesanal, dá origem as fábricas e por consequência inicia-se um modelo de organização do trabalho, agora de forma intensiva. Dessa forma podemos concluir que a primeira fase da evolução da Ciência e da Tecnologia ocorre no período que antecede a Revolução Industrial. A segunda fase acontece no período que vai da Revolução Industrial até a Segunda Guerra Mundial, século 20, e a terceira fase do avanço da Ciência e da Tecnologia, inicia-se com a Segunda Grande Guerra, também no século 20, até os nossos dias atuais.
Como podemos verificar, hoje, a introdução das máquinas nos setores produtivos ao longo dos anos, não só aumentou a velocidade do trabalho como também reduziu e até mesmo substituiu o homem no seu posto de trabalho. Sendo assim, a máquina e sua evolução através dos tempos passa ser o centro no processo econômico e produtivo. Nesse contexto, com a ampliação do crédito foi possível dinamizar e fortalecer o sistema capitalista em ascensão e o capital, sem sombra de dúvidas, sempre ficou nas mãos de uns poucos, numa roda viva que tem sustentação primeiro, no pilar econômico e segundo, no pilar político.
Mas, nos dias de hoje, num mundo dividido entre uma minoria de detentores do capital e uma maioria de desprovidos desse mesmo capital, é preciso fazer a seguinte reflexão: a Ciência e a Tecnologia estão a serviço de todos? A resposta a esse questionamento é, simplesmente, não. Agora, depois de respondida a questão, temos de tomar algumas atitudes, já que, o conhecimento científico, conforme observado, ao longo da história, não era privilégio de alguns grupos em detrimento de outros, mas ocorrera de maneira a favorecer melhores condições de vida a todos, assim, como os relatos do livro de Levítico[4]. Para tanto, é necessário que mudemos o nosso pensamento e comportamento no sentido de garantir, lá na frente, a longo prazo, uma nova humanidade. Proponho que essa mudança comece já, pois não é possível que fiquemos no famoso “jeitinho”, é preciso muito mais. É preciso construir um novo modo de viver e para alcançar esse objetivo o primeiro passo seria desenvolver entre nós a cultura do não consumismo, consequentemente, nos livrando das amarras da ideologia capitalista que só valoriza o ter em detrimento do ser.




Rio de Janeiro, 7 de novembro de 2015.


[1] De acordo com a UNESCO, "a ciência é o conjunto de conhecimentos organizados sobre os mecanismos de causalidade dos fatos observáveis, obtidos através do estudo objetivo dos fenômenos empíricos"; enquanto "a tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos diretamente aplicáveis à produção ou melhoria de bens ou serviços" (Reis, Dálcio Roberto, “Ciência e Tecnologia” in www.xadrezeduca.com.br/site/h4/).

[2] Os textos bíblicos citados são da Bíblia do peregrino da editora Paulus.

[3] A revolução científica moderna tem início com a obra de Nicolau Copérnico, Sobre a revolução dos orbes celestes (1543). Copérnico defende matematicamente um modelo de cosmo heliocêntrico, rompendo com o sistema geocêntrico formulado no século II por Cláudio Ptolomeu. Os filósofos René Descartes e Francis Bacon dedicaram suas obras as novas teorias científicas e ao modelo de ciência baseado no método científico da observação, da experimentação e verificação de hipóteses como critérios decisivos, destituindo de vez o argumento metafísico.

[4] O livro de Levítico é um tratado de higiene e saúde. Nessa época o povo vivia a Idade do Bronze (1500 a.C.). Estavam saindo do Egito, viajando a pé e acampando pelo caminho, com rebanhos e crianças imigrando para o Oriente Médio. As orientações visavam acomodar as necessidades e resguardar o povo de uma epidemia ou doença generalizada pelo acampamento. As medidas anunciadas são profiláticas visando primariamente a prevenção e a erradicação de microorganismos.




[i] Professor, Especialista em Educação e Poeta.